DESMISTIFICANDO O CÓDIGO DA VINCI


A onda gerada pelo livro O Código Da Vinci esconde por trás de seu sucesso uma campanha bem urdida de desinformação, desqualificação e dissimulação diversiva. Bem ao contrário do que se pensa o livro não é um ataque direto à Igreja, mas um meio astucioso da própria Igreja atacar os estudos históricos que tentam recontar sob novo ângulo os eventos do cristianismo primitivo, ao se apoiarem sobre fontes extra-canônicas principalmente os chamados evangelhos apócrifos.

É relevante ressaltar que, ao final do romance de Dan Brown, a Igreja é isentada de qualquer envolvimento nos crimes que impulsionam toda a trama. Inclusive a ligação da Opus Dei com a Igreja católica, através de seu status de prelazia1 pessoal do Papa, é supostamente desfeita, antes mesmos dos acontecimentos narrados no livro; isto por meio de uma fictícia decisão da Cúria Romana de revogar a sanção que lhe foi concedida pelo vaticano. No pacote, para desvincular totalmente a Opus Dei da ICAR2, incluiria a promessa de restituir à organização, em 5 prestações, o empréstimo concedido por esta ao então quase falido banco do vaticano em 1982. Outro fato digno de nota é que o vilão de toda a estória, Sir Leigh Teabing – o responsável pela conspiração, pelos assassinatos e pelo aliciamento do “ingênuo” dirigente da Opus Dei Bispo Manuel Aringorosa – é justo o personagem que incorpora mais ativamente o tom acusatório e de denúncia contra as imposturas históricas da Igreja, para encobrir os registros de fatos que contradigam a sua “verdade oficial”. Longdon, o protagonista, se limita a concordar passivamente com as falas de Teabing e se resguarda de tomar uma atitude de afronta direta aos procedimentos do clero católico ao longo da História. Ora, Teabing é claramente apresentado como um psicopata obcecado por suas idéias e teorias de conspiração. Quem daria crédito a um sujeito com um diagnóstico tão desabonador e tão pouco confiável? O próprio Dan Brown faz o trabalho dos defensores do relato ortodoxo dos eventos, desqualifica totalmente o personagem que representa e sintetiza o discurso subversivo ao status quo histórico mantido e divulgado pela versão canônica.

Essa campanha contra uma visão científica e histórica mais equilibrada fica mais clara ao se ler os livros que vieram na corrente do sucesso do romance, tais como Os segredos do código Da Vinci de Dan Burstein, Revelando o Código Da Vinci de Martin Lunn e o sui generis Decodificando Da Vinci de uma tal Amy Welborn, mestra em história da Igreja pela Universidade Vanderbilt(?) e escritora de livros de orações, santos e estudo dirigido das escrituras, cuja última página do livro é tão insidiosa que nem mereceria comentários, apenas citarei o último parágrafo da última página onde observa-se o tom geral do livro: “Está curioso com relação à Jesus? A verdade está tão perto quanto o livro que está na estante. E, não, não é o Código da Vinci. Não deixe que um romancista que está na moda instrua você nos caminhos da fé. Volte para o começo e dirija-se à fonte: pegue a Bíblia. Você vai ficar surpreso com o que vai encontrar.”

Um que merece leitura é O Código Da Vinci Descodificado, de Simon Cox, onde o autor busca ser imparcial e direto. Sua forma de escrever é ligeiramente divertida.


Entretanto vou me deter explicitamente no livro Quebrando o Código Da Vinci de Darrel L. Bock. Neste livro o autor busca quebrar oito códigos ocultos no romance. Todos os cincos primeiros são de fácil refutação, pois são dados ditos factuais por Dan Brown, que se tornam frágeis diante de uma análise histórica mais apurada. São hipóteses do casamento de Jesus, da linhagem sagrada, da existência e antiguidade da sociedade secreta chamada Priorado de Sion e outras conjecturas correlatas. Todos estes elementos podem ser rastreados até a fundação da tal ordem secreta em 1956 por Pierre Plantard e três colaboradores. Pierre Plantard foi um mistificador de extenso repertório, tendo inclusive e não por acaso, se colocado dentro da linhagem Merovíngia, acrescentando ao seu nome a partícula Sant Clair. Fundou jornais na linha esotérica e defendia neles uma campanha de restauração na Europa de uma monarquia divina apoiada pela Igreja católica, nunca escondeu sua posição de católico de direita. Os tais documentos secretos do Priorado de Sion depositados na Biblioteca Nacional de Paris tiveram sua autenticidade negada ao se saber que foram forjados pelos próprios membros da dita ordem. O fato de estar numa biblioteca de renome não é significativo, não lhe outorga autenticidade, pois qualquer um pode fazer depósitos de documentos nesta biblioteca, cuja responsabilidade é só catalogá-lo e datar sua entrada ou saída.

A partir daí não há nenhum mérito em “quebrar” os códigos relacionados com tais hipóteses totalmente infundadas. O problema é que isso deu ensejo a Bock colocar a pesquisa de historiadores competentes no mesmo nível destas falcatruas. Estes pesquisadores entraram na mira do autor justamente por darem a mesma importância tanto para os escritos apócrifos como para os canônicos, dentro dos mais rígidos critérios históricos. Pejorativamente são chamados dentro de Quebrando o Código de revisionistas, pois estão construindo ‘uma história alternativa’ da existência de Jesus e dos primeiros anos do cristianismo que não se adapta aos pressupostos propalados pela Igreja.

Essa tática não é nova, da mesma forma antes o exegeta John P. Méier fez o mesmo ataque contra esse grupo de historiadores que é encabeçado por Helmut Koester, pesquisador alemão que lecionou em Harvard e cuja influência se reflete nas opiniões de muitos de seus colegas e alunos americanos, entre os quais se incluem, Ron Cameron, Stevan Davies, James Robinson e John Dominc Grossan. E que opiniões são essas que tanto irritam os defensores da autoridade única dos textos canônicos? É simplesmente a idéia de que alguns evangelhos apócrifos como o de Tomé possam ter sido escritos já na segunda metade do século I, não trazendo influência dos evangelhos canônicos e contendo algumas das palavras de Jesus numa forma mais primitiva do que as apresentadas nestes últimos. Essas hipóteses não são levianas nem infundadas, são embasadas em datação histórica rigorosa, estudos de estilo e proximidade com a tradição oral e com a fonte Q, uma coletânea de relatos e ditos que teria sido a base de origem de quase todos os evangelhos. A teoria sobre a fonte Q tem ampla aceitação entre os historiadores, que deduzem como teria sido seu aspecto geral através de comparações críticas entre os evangelhos remanescentes. O trabalho desses pesquisadores é feito respeitando o método científico e não leva em conta o peso da fé ou da autoridade eclesiástica.

Nas palavras de Bock:

“Koester afirma que elementos da teologia desses grupos rejeitados, que Tertuliano dizia serem posteriores, não podem ser comprovadamente tão recentes. Koester diz: “As primeiras tradições e escritos evangélicos contêm sementes tanto de heresia quanto de ortodoxismo. Para a descrição da história e do desenvolvimento da literatura evangélica dos primeiros períodos do cristianismo, os epítetos herético e ortodoxo não dizem nada. Apenas o preconceito dogmático pode admitir que os escritos canônicos têm origem apostólica exclusiva e, assim, prioridade histórica””.

Logo a seguir ele faz um julgamento de valor leviano e que tenta induzir o leitor a ter já uma ideia preconceituosa do estudo de Koester:

“Se estas alegações não estivessem em livros de acadêmicos, tenderíamos a chamá-las de mentiras baratas.”

E no final do capítulo referente ao sexto código ele arremata, fechando o ciclo de suas intenções:

“Mostramos o que existe por trás de O Código Da Vinci e o código "secreto" dos escritos gnósticos aos quais se refere um megacódigo.(?) O Código Da Vinci não é uma mera obra de ficção disfarçada de quase realidade. O livro reflete um esforço para representar e, em alguns casos, reescrever a história, com o uso seletivo de evidências antigas que ironicamente apontam para um desmentido da história antiga. Reflete ainda o esforço para redefinir uma das forças culturais mais importantes nas bases da civilização ocidental: a fé cristã. O livro alega expor com tato algo que realmente não está ali. Embora haja alguns pontos a serem considerados neste estudo, a maior parte do que está na base deste megacódigo carece de fundamentação histórica. Ao quebrar O Código Da Vinci, descobrimos que há muito mais acontecendo aqui do que a simples criação de um romance de ficção. Existe uma revisão do que foi e é o cristianismo. Trata-se de uma realidade virtual.” .(os grifo são meu)

Aqui se mostra do que realmente Bock está tentando defender o cristianismo: não é das charopadas do romance de Dan Brown (aliás livrinho muito do mal escrito!), mas das pesquisas de historiadores renomados que dão valor ao estudo dos evangelhos apócrifos na investigação do que teria sido o cristianismo em seus primórdios. Apesar de ser protestante, Bock está interessado em defender a versão oficial da Igreja católica, pois esta é o lastro que sustém a teologia fundamental de qualquer vertente cristã. É sintomático que – depois do sétimo que é apenas um resumo dos seis anteriores – na quebra do oitavo código denominado singelamente de “Código 8: O verdadeiro código de Jesus”, Bock aproveita para fazer proselitismo, uma catequese descarada onde apresenta o Jesus Canônico como a única via de salvação para a humanidade.

Esse movimento dito ‘revisionista’ pelos detratores e combatido tão veementemente por Bock tomou impulso a partir das descobertas de Nag Hammadi, em que foram trazidos à luz textos que antes só haviam referências fragmentadas em ataques feitos pelos primeiros Padres da Igreja. Esse material colocou a Igreja numa situação constrangedora, pois trouxe à tona muito do que ela pensava ter destruído definitivamente. Agora se arrola numa tentativa de desmoralizar historicamente este material e menosprezar os estudos que defendam a sua anterioridade ou contemporaneidade em relação aos canônicos, usando das mais diversas campanhas junto principalmente ao público leigo, a massa a qual lhes interessa manter imune às influências dessas novas informações. Não é por acaso que o publico alvo dessa campanha seja o mesmo que lê e transforma em best-sellers livros como os de Paulo Coelho e Dan Brown. Talvez o próprio romance deste último faça parte desta estratégia de colocar todos os apócrifos sem exceção como “um monte de entulho produzido em grande parte pela imaginação piedosa ou fantástica de alguns cristãos do século II” 3.



1 – Prelazia: Organização hierárquica secular mas que conta com o apoio e aprovação do vaticano.

2 - ICAR - Igreja Católica apostólica Romana

3 - MEIER, John P. - Um Judeu Marginal: Repensando o Jesus Histórico; Raízes do Problema. Imago, 1993. Fonte: Cap. 5 As Fontes: As Agrapha e os Evangelhos Apócrifos".




Um comentário:

Unknown disse...

Amigo O CÉPTICO: ver, no Google, os 177 tweets do Twitter @DeusesCiencias: É muito fácil provar que deuses (quaisquer deuses e deusas) nunca existiram. Jamais existiram: Brahma, Buda, Deus, Ganesh, Krishna, Oxalá, Shiva, Tupã, Vishnu, Cristo. As principais provas da inexistência de quaisquer deuses (há muitas outras provas) são:
- humanos espertos já inventaram milhares de deuses em todos os cantos da Terra. Quase todos eles já foram esquecidos !! Exemplos de deuses mortos: Afrodite, Atena, Cronos, Hades, Hera, Júpiter, Marte, Posseidon, etc.
- há pessoas tão inteligentes como nós na Índia, Japão, China, África, Europa, Américas, que acreditam em deuses completamente diferentes uns dos outros. Na Índia, por exemplo, acreditam nos deuses Brahma, Ganesh, Krishna, etc., e acham engraçado um deus de cabelos e barba brancos, de roupão ou vestido também branco, sentado nas nuvens congeladas !!
- há 3 ou 2 mil anos, o judaísmo e o cristianismo inventaram um deus que estaria bem longe de nós, em nuvens de algodão, macias e confortáveis. Ninguém podia ir lá no céu, nas alturas, porque o avião só foi inventado no ano de 1906. Há mais de 100 anos, milhões de aviões atravessam todas as nuvens e os pilotos e passageiros não conseguem ver nenhum sinal de quaisquer deuses “atuais” ou “falecidos”;
- prova muito importante e definitiva da inexistência de deuses: reunir 11 líderes religiosos inteligentes, cada um representando um deus diferente, para escolherem apenas um deus supostamente verdadeiro. Cada um garantirá que o seu é o deus verdadeiro !! Jamais chegarão a uma conclusão ou acordo!! Não sejamos pretensiosos e recordemos que não somos mais inteligentes do que indianos, japoneses, chineses, etc. Esqueçamos a crença tola de que o nosso deus ou nossos deuses são verdadeiros, e que os deles são falsos.
- nenhum deus todo poderoso é capaz de impedir todas as tragédias da natureza que matam ou deixam aleijados milhões de humanos e de outros animais. Secas intensas, incêndios, inundações, terremotos, tsunâmis, ..., liquidam milhões de seres vivos, e os inventados deuses, impotentes e inexistentes, nada podem fazer mesmo que a vida de uma criança dependa de um único gesto de tais entidades fantasmas ou deuses !!
- da mesma forma, os deuses inventados por homens espertos jamais conseguirão evitar as tragédias representadas por centenas de doenças diferentes ou por atos cruéis de seres humanos ou animais: milhares de guerras ao longo da história, assassinatos em geral, estupros de criancinhas que são mortas ou ficam aleijadas, atropelamentos, agressões físicas, inclusive contra mulheres e crianças, etc.
- se existisse algum deus, ele não seria capaz de resolver nem mesmo todos os problemas de uma pequena família !! Muito menos daria conta de solucionar todos os problemas de um bairro, ou de uma cidade, ou de um país, ou todos os problemas de 7 bilhões de humanos.
- deuses, inexistentes, não conseguem cuidar nem do infinitamente pequeno planeta Terra. Conseguiriam cuidar do Sol, dentro do qual cabem 1.300.000 (um milhão e trezentas mil) Terras ?? Não dando conta de zelar pelos moradores de uma rua apenas, seriam capazes de administrar 70 SEXTILHÕES de estrelas ou sóis menores ou milhões de vezes maiores que a nossa estrela Sol ?? Conseguiriam viajar de avião a 800 km por hora, sem parar, durante 144 trilhões de anos, para atravessar todo o Universo ??
- o Universo existe há 13,7 bilhões de anos, o Sol e a Terra são muito mais novos (4,5 bilhões de anos), os homens macacos surgiram recentemente há +- 7 milhões de anos, e o homem moderno só existe há +- 150 mil anos. Muito tempo depois, há apenas 3 mil anos ou menos, é que os homens inventaram milhares de deuses.
- a escrita só foi inventada há +- 5 mil anos e os livros religiosos (alcorão, bíblia, mahabarata, ramayanas, sunnah, torá, etc) são muito mais novos. Conclusão muito fácil: DEUSES E DEUSAS, QUAISQUER DEUSES, NUNCA EXISTIRAM !!!