PORQUE CRITICO O CRISTIANISMO.


Percebo que um grande contingente de leitores se sensibiliza quando a religião cristã é criticada. Tomam como ofensa pessoal ou como ataque a todas as pessoas que professam esse credo. Não entendo a confusão; ficaria bem claro para todos que, ao condenar o nazismo, não estaria atingindo o próprio povo alemão ou estigmatizando a sua nacionalidade, mesmo que tenham compactuado com as ações do regime, deixando que os discursos apologéticos de Hitler seduzissem toda a nação.

Assim, no momento em que apresentar críticas severas ao cristianismo atualmente em voga e em suas inócuas digressões, elas não devem ser lançadas sobre seus inocentes úteis: a pobre massa parasitada. Isto seria um argumento desonesto, uma falácia. Entendo que os cristãos são vítimas ou apenas instrumentos de uma vontade que não lhes pertence; que, imbuídos de suas verdades e certezas, têm servido aos propósitos de “um grupo da elite do clero", até mesmo como executores de seus crimes. São, no fundo, criaturas aliciadas e inconseqüentes, mas nem por isso menos perigosas.


Toda essa teologia cristiana de salvação é anti-humana, anti-ecológica e contra a vida. E não sou eu apenas que digo isso; pensadores como Nietzsche, Freud ou Reich já nos alertaram quanto a isso. A partir de um sistemático estudo da história e ideologia do cristianismo, estou no momento decidido quanto à necessidade de erradicação da mentalidade cristã ou seremos eliminados da face do que ainda restar do planeta. Isso não significa, em absoluto, que queira eliminar os cristãos. Não estou aqui preconizando o bem conhecido método católico de cura das doenças que são diagnosticadas pela sua ótica dogmática: eliminar a doença exterminando os doentes. Esse é um procedimento que pode ser repetido para todos os casos; não exige nenhuma sutileza, pesquisa, estudo ou comprovação da validade do diagnóstico. Não quero que suponham que seja esse o tratamento defendido por mim, Nietzsche, Freud ou Reich. Nenhum desses autores fez declarações levianas apenas movidas pelo ódio ou pelo radicalismo. Seus trabalhos sobre sexualidade, ética e genealogia da moral são referências duradouras. Contudo, não importa de onde venha o diagnóstico, sempre devemos procurar segundas, terceiras ou quartas opiniões. O mesmo vale para o meu, o de Nietzsche, o de Reich, o de Freud e de outros. Não só os cientistas precisam ser céticos, deve também fazer parte de nossas hipóteses de trabalho a consideração das possibilidades de erro. Por isso, sempre admito que posso estar enganado, mas nem por isso recuo ao ter que tomar uma decisão, assumindo os riscos e a responsabilidade dela decorrente. No momento estou decidido pelos diagnósticos desses pensadores; aposto minhas fichas neles, apesar de nunca abandonar minha boa e velha amiga dúvida. Ela é que me mantém alerta, não me deixando perder os motivos justos e os momentos próprios para reconsiderar e tomar uma nova decisão.

O cristianismo é um arremedo de religião deste o seu início, cujo fundador não foi o homem chamado Jesus de Nazaré, mas um oportunista e plagiador de cultos anteriores: Paulo de Tarso. Quem quiser conhecer o teor desta traição, precisa ler os evangelhos apócrifos, principalmente os recém-descobertos na década de 1940. A datação destes manuscritos os coloca, para alguns pesquisadores, como os documentos mais próximos das fontes originais que serviram de registro aos pensamentos de Jesus.

Porém, antes de tudo, é preciso dar nome aos bois e afastar o efeito de um ardil diversivo. A praga perniciosa e deletéria (relevem a redundância, quero ser enfático) que vem atacando a humanidade nesses dois milênios, com mais propriedade, deveria se chamar paulismo ou, pelo menos, cristianismo paulino. Esta deturpação sensacionalista veio a ser firmar a partir da hegemonia política angariada pela igreja de Roma sobre a dita igreja de Jerusalém, valendo-se dos estratagemas engendrados pela mente prodigiosa de Paulo. Em seu nascedouro, o núcleo de Jerusalém foi uma comunidade reunida em torno das figuras de Maria Madalena e Tiago, irmão de Jesus. Maria madalena aparece como um dos apóstolos mais intelectualmente ativo, após a morte de Judas Iscariotes; e Tiago como um elemento moderador e conciliatório para algumas das tendências do grupo. O principal conflito de opiniões vingava entre Pedro e Maria Madalena. Ele não aceitava que ela, como mulher, tivesse uma posição tão destacada dentro do movimento. A sua ostensiva misoginia era um traço indelével no seu caráter. E ela será amplamente explorada por Paulo no processo de aliciamento de Pedro, fazendo-o bandear-se para a linha cismática que irá promover.

Paulo de Tarso chega como qualquer outro simpatizante, sem nenhuma dignificação anterior que lhe traga relevo. Mas ele não demora a mudar essa situação, criando para si uma via apostólica sem nunca ter vivenciado a presença de Jesus. É a tão propalada e superestimada visão no caminho de Damasco. Quem poderia asseverar que ela tenha ocorrido realmente? De qualquer forma, ela não lhe deu autoridade suficiente para minar a resistência natural contra as inclusões platônicas que pregava e queria ver fundando o ideário do movimento.

Paulo, um devoto seguidor de Platão, desejava emular na estória de Jesus a trajetória do Sócrates platônico, mas elevando o modelo do mártir idealista ao nível do drama cósmico. Tipificando a personalidade megalômana por excelência, ele evoca, como testemunho da verdade de sua fé, o evento mítico do deus-homem que desce à terra e se oferece em holocausto para o “bem” da raça humana. O cordeiro divino que passa a se imolar eternamente no lugar dos homens para livrá-los das conseqüências de todos os seus pecados, cometidos ou não. Eis a mais asquerosa e fraudulenta concepção moral gerada pela vaidade e a ambição de um homem e, depois, abraçada fervorosamente pela autoindulgência humana: o bode expiatório universal. Desde então, a humanidade passou a ser depositária de uma promessa de impunidade que poderá ser resgatada, por uma simples palavra de contrição, no final da vida. Através desse deus “caridoso” foi nos dada a graça de viver sem assumir a responsabilidade por nossos atos. Nem o tom diplomático de Tiago conseguiu assimilar ou tolerar essa intrusão tão apartada da mensagem que se propuseram transmitir.

Frustrado em suas pretensões dentro do grupo, Paulo resolve abrir sua própria franquia, onde poderia implantar livremente a sua doutrina recheada de platonismo de fácil assimilação, principalmente para os gentis. Todavia, não tencionava sair sozinho, planejava arrebanhar o máximo possível de dissidentes para sua causa. Para tal, necessitava de um chamariz. E para conseguir esse trunfo, ele intuiu que a melhor jogada seria levar consigo um apóstolo genuíno. O candidato mais óbvio e fácil de convencer não era outro senão Simão, de alcunha kepha em hebraico, a rocha, a pedra; uma forma de chamamento que apelava pejorativamente para sua origem de aldeão bronco, simplório e iletrado. Paulo, astuto mais uma vez, reverteu esse detalhe inconveniente a seu favor ao pôr na boca de Jesus as palavras emblemáticas do evangelho: “tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”. Com um golpe certeiro, Paulo destitui a precedência de todos os outros apóstolos em prol de um único: o instável e irascível Pedro e funda uma igreja bem ao gosto dele; sem exigências intelectuais e com a total segregação das mulheres.

A Igreja agiu (e age) mantendo coerência apenas com os próprios interesses, muitas vezes passando por cima de seus próprios ideários, leis constituídas e regulamentos internos tão solenemente pregados. E, sempre em vista de preservar esses interesses, adapta oportunistamente suas posturas e atitudes de acordo com as circunstâncias sociais e estruturas de poder vigentes. É um tipo de conduta que vem aplicando desde seus primórdios; seguindo a linha de seus veneráveis fundadores, a começar por Pedro e Paulo. Deste período, temos o exemplo do uso do sacrifício dos mártires para promover a nova religião entre a parcela impressionável da população que, diga-se de passagem, era bastante significativa, sendo até hoje estimulada a crescer cada vez mais. Também é desta época uma das primeiras amostras do espírito de amor ao próximo, de tolerância com a diferença e de legitimação do livre arbítrio. A campanha de exclusão sumária do seio da comunidade de verdadeiros cristãos dos perpetradores das designadas primeiras heresias, aqueles que teimosamente insistiam na necessidade de não se parar de buscar, de compor interpretações autônomas e de sempre ter que se fazer escolhas; donde receberam o nome pelo qual vieram a ser conhecidos: os que escolhem, os optantes, os hereges. Mas eram uns inconseqüentes ao fazerem isso, pois a verdadeira e única mensagem de Jesus, o cristo, já havia sido trazida ao mundo pelo próprio, o tempo da procura concluiu-se depois dos grandes adventos narrados nos evangelhos, nada mais restava a escolher e a postura que identifica indubitavelmente um cristão autêntico é a aceitação sem reservas dessa mensagem, a mesma que foi confiada aos apóstolos e seus legítimos descendentes, os representantes oficiais da cátedra de Pedro.

Agora, vamos analisar o “legado da Igreja e sua importância no desenvolvimento da civilização ocidental”. Que legado foi esse? Talvez possamos perguntar a Freud ou aos que desenvolveram a psicanálise se foi o respeito e a manutenção de uma sexualidade saudável no ser humano. Suponho que a resposta será um não bem redondo. Sendo assim, deve ter sido científico. Façamos então a pergunta a Galileu, Darwin ou mesmo a Giordano Bruno. Será que teríamos uma resposta diferente? Que tal o desenvolvimento de altos valores morais? Eu faria essa pergunta a Nietsche e ele me falaria da genealogia da moral e da má consciência e seus efeitos decadentes sobre o homem ocidental. Quem sabe não poderia ser a luta pela paz e a convivência pacífica entre os povos. Será que os meninos imberbes que integraram a cruzada das crianças ainda poderão nos responder sobre isso? Ou os judeus, mulçumanos e cristãos que, durante certo período, viveram na península ibérica numa atmosfera de tolerância cultural e religiosa? Ou às pessoas que se mataram e ainda se matam na Irlanda, apesar de comungarem sobre os mesmos ensinamentos?

A tendência geral aponta para uma inegável contribuição da igreja para as artes. Será que é tão inegável assim? O canto gregoriano e a música sacra em geral se apropriaram de expressões musicais pagãs transmitidas por grupos de menestréis como os goliardos. O apelo original dessas composições foi mantido, mas os versos de louvor ao ideal pagão de vida foram substituídos pela mensagem cristã. Mesmo o esplendor de algumas peças se deve mais ao talento do artista que ao tema. Quanto à arquitetura, basta levar em conta seus nomes para detectar suas influências; gótica, românica e etc... A arte pictórica, na opinião de alguns estudiosos como Israel Pedrosa, declinou visivelmente durante o monopólio instituído pela igreja na idade média, isso se compararmos o desenvolvimento já alcançado pelos gregos, romanos e até egípcios. As artes plásticas só voltaram mesmo a florescer na renascença, graças à retomada dos ideais clássicos. Quem, olhando o teto da capela sistina, poderá dizer que se trata de uma evocação ao imaginário sacro católico? Tanto não é que já houve propostas para se cobrir a nudez das figuras pintadas por Michelangelo. Nietsche considerou a renascença como um período promissor de infiltrações pagãs na igreja, mas que infelizmente foi abafado pela contrarreforma; para ele, Lutero prestou um desserviço à humanidade.

Contudo, ainda temos que considerar que, durante a idade média, qualquer outro meio de expressão fora do patrocínio da igreja era perigoso ou inexistente. Assim, ou o artista se restringia aos ditames da religião ou não veria sua arte realizada e exposta. Também havia aqueles que realmente acreditavam que todo o dom artístico provinha da obediência e temor a deus e a ele deveria retornar através das obras de louvor; uma visão saliérica por excelência; a mesma que sempre caí por terra quando confrontada com a existência dos Mozarts.

Todavia, muitos contestarão que não temos condições de saber, com certeza, como seria sem a igreja. Poderia ser melhor, mas também poderia pior. Talvez nem fosse diferente. É tudo vã conjectura, que agora não tem nenhuma utilidade. O revanchismo não nos levará a nada. As pessoas que fizeram a igreja no passado já morreram, não podemos culpar as de hoje de nada que seus antecessores fizeram.

Concordo, em termos. Não podemos ter certeza se seria diferente. Mas esse é um fato trivial: não só isso como nada podemos saber com certeza. Contudo, nada nos impede de aduzir probabilidades. Por tudo que expus, pelo legado da antiguidade clássica e pelo muito que ele conseguiu, apesar dos mais de mil anos de clandestinidade; é muito plausível a hipótese de que, sim, seria diferente e muito menores os danos e os prejuízos para humanidade. Não estou me importando se sôo politicamente incorreto ou não. Aceitar a argumentação politicamente correta daria precedentes para o advogado de uma companhia aérea, responsável pela queda de um avião, negar indenização à família de um dos mortos, alegando que não houve dano ou prejuízo, pois não se pode estabelecer sem sombras dúvidas se a família estaria em melhor ou pior situação financeira, caso a vítima ainda estivesse viva após o acidente.

Outra argumentação reincidente é dizer que; embora tenha havido uma certa catequese predatória através do medo, constrangimento, suborno, sevícias, armas e queima de livros; as culturas e religiões que se perderam poderiam ter sobrevivido, se resistissem mais e se a preservação de seus livros e conhecimentos lhes fossem realmente essenciais, já que muitas outras se defrontando com adversidades iguais ou até maiores, logrando êxito e transmitindo suas tradições aos dias de hoje. Usando de novo a metáfora de tribunal, seria o mesmo que defender um estuprador acusando a vítima de não ter resistido o suficiente, afinal se assim tivesse agido teria evitado o estupro, do mesmo modo como muitas outras mulheres visadas conseguiram impedir a consumação do ato.

O problema da religião católica e muitas de suas ramificações é que jamais conseguirá conviver com outras concepções religiosas, isto por causa da índole monopolista de sua estrutura ideológica; a crença que professam é a de possuírem o único caminho para a salvação, a única verdade que ilumina, “ninguém chega ao pai senão por mim”. Só por aceitar os dogmas de sua religião, os católicos já estão tachando todas as alternativas como fraudes, logro e perdição. Portanto, sentem-se no direito e no dever de salvar, a qualquer custo, as pobres almas ingênuas e cegas, levando até elas a verdade, da qual são os portadores escolhidos por deus. Assim, não acham nada de mais invadir o espaço de culto alheio, afinal concebem suas ações como um ato de amor ao semelhante. Para eles, o máximo do altruísmo é representado por sua regra de ouro: “fazer ao próximo somente o que gostaria lhe fizessem”.

Desconfio de quem se diz livre e consciente aceitando como natural ser chamado de ovelha do rebanho de deus. O salmo 23 é uma pérola dessa total falta de senso: “O senhor é meu pastor e nada me faltará”. Qual o interesse do pasto em cuidar das ovelhas? Realmente nada faltará a elas até o dia da tosquia, quando ele lhes tomará a lã. Ou até o dia do abate, quando lhes tomará a vida.

E, contraditoriamente, todos condenam a visão de "ovelha no redil", mas aceitam de bom grado e como elogio serem colocados como pessoas tementes a deus. Acho estranho, pois temer o pastor e os cães do pastor é uma característica de “ovelha no redil”. Seguir uma conduta por medo não é mérito, é covardia. A estratégia padrão de todo bom tirano é provocar medo e intimidar a massa oprimida. Quem aprovaria, nos tempos atuais, a relação entre pai e filho baseada no medo? Medo não gera respeito, mas revolta e ressentimentos afogados na passividade conformada. Mas até quando? Não se pode ser sincero quando movido pelo medo. Temos que agir sem constrangimentos, de livre e espontânea vontade e deliberação, assumindo responsabilidade por cada ato, sem desculpas de termos sido forçados por alguma pressão superior. Se assim eu me comportar e fizer igual ao que me foi recomendado, nutrirei genuíno respeito por quem me aconselhou desta maneira. O medo e a servidão sempre andam juntos e fazem parte das virtudes teologais almejadas por qualquer cristão. O livre arbítrio é a maior farsa perpetrada dentro do cristianismo: onde há medo e censura, não resta espaço para a liberdade de escolha ou para decisão responsável.

As religiões que pregam a “Verdade” são danosas a qualquer eco-sistema, são viróticas e parasitárias, são programadas para se espalhar por todos os indivíduos vulneráreis e eliminar toda a saudável diversidade. A bíblia é um manual para tiranos e posturas antiecológicas. Quem credita nela fielmente, está contribuindo para a destruição do planeta e para a manutenção dos sistemas viciosos de poder. A população ocidental esteve prestes a ser tomada totalmente por essa doença; tivemos uma pequena recuperação, um novo alento dado por um remédio antigo, mas ainda estamos convalescentes e a afecção está voltando com mais força e novas variantes mutagênicas. Essa não é a hora de ser politicamente correto, já não podemos nos dar o luxo de ser condescendentes; agora é uma questão de sobrevivência do planeta como um todo.




Um comentário:

YuriBSB disse...

Olá,comentei o seu artigo na pág: http://livrespensadores.org/artigos/porque-critico-o-cristianismo/

e esqueci de lhe perguntar: porque o cristianismo é ANTI-ECOLOGICO?
(ja que eu não concordo que seja anti-humano nem contra a vida - veja o coment..)